sábado, 7 de novembro de 2009

Das proximidades entre Literatura e História

Professor Celdon Frietz
Professor do Curso de Letras

Olhar menos alerta poderia num primeiro momento dispor a Literatura e a História como áreas antagônicas, visto que a uma caberia o exercício imaginativo, a criação ficcional; e, à outra, o estabelecimento da verdade, a narração de determinada factualidade. Porém, tal disposição não oferece contemporaneamente a mesma consistência que poderia assumir ao olhar do século XVIII, quando os termos acima pareciam suficientes para marcar a distinção de duas áreas com objeto específico. Pensando a Literatura aqui somente em termos de narratividade, podemos dizer que entre ela e a História, mesmo que seus objetos se diferenciem, algo as aproxima irremediavelmente: elas são relatos; nelas, alguém conta ou algo é contado.
Isso significa que há determinados elementos que seriam comuns tanto ao relato histórico quanto ao literário. Ou seja, há uma estrutura narrativa da qual personagens, enredo, foco narrativo, espaço, tempo são próprios e que pode ser observada tanto no relato histórico quanto no literário. Poderíamos, por exemplo, nos ater aqui à questão do foco narrativo: a posição a partir da qual os acontecimentos são relatados. Sobre isso, é fácil nos localizarmos quando lembramos de Dom Casmurro como narrador. Ele conta sua história de modo a justificar seu presente solitário, causado pela suposta traição de Capitu. Daí que o foco narrativo tende a mostrar o passado na perspectiva que convença ao leitor (e a ele mesmo, Bentinho) de que a vítima é o narrador. O outro lado não é ouvido. Ora, grosso modo, podemos dizer que essa “parcialidade” também seria observada em determinada historiografia que exporia o ponto de vista dos vencedores em detrimento dos vencidos. O foco narrativo, nesse caso, também salientaria aspectos que fariam crer ao leitor que determinados fatos ocorreram ou foram provocados de modo a consolidar a perspectiva de setores politicamente mais avançados da sociedade. Para ilustrar isso basta pensarmos na vertente da história dos grandes vultos, onde há um foco narrativo que também opera no relato histórico de modo a contar o passado ao leitor a partir de determinada posição que produza neste empatia em relação aos personagens que se quer sejam percebidos como heróicos.
Essa proximidade entre História e Literatura no que concerne à natureza narrativa de suas escritas tem diversas conseqüências. Algumas mesmo que alimentam posições bastante controversas. Mas isso é outra conversa.

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